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O empresário gaúcho Jorge Gerdau lança hoje o livro ‘A Busca’, que revela aprendizados e reflexões sobre a sua trajetória

‘A busca sempre foi por excelência’, diz Gerdau

Um dos principais empresários gaúchos, com papel de destaque no mundo corporativo nacional e internacional, e fundamental na consolidação da liderança da Gerdau como uma das principais siderúrgicas da América Latina, Jorge Gerdau lança hoje, em Porto Alegre, o livro ‘A Busca: os aprendizados de uma jornada de inquietações e realizações’. O título sintetiza os assuntos narrados ao longo de mais de 170 páginas da obra, já em pré-venda pela Amazon. Característica marcante em sua trajetória, a busca constante pela excelência é enfatizada também no livro. Para falar sobre como foi a construção desse processo, que durou cerca de três anos, bem como sobre a série de lições pessoais e profissionais compartilhadas, o empresário recebeu a equipe do Jornal do Comércio em sua casa, no bairro Três Figueiras, na Capital.

Confira alguns trechos da conversa:

Jornal do Comércio – Dr. Jorge, imagino que o senhor, ao longo de sua trajetória, deve ter sido incentivado a escrever um livro e contar as suas memórias várias vezes. Poderia compartilhar o que o motivou a lançar essa obra agora?

Jorge Gerdau – Na minha vida, sempre procurei, dentro da própria filosofia histórica da família, ter um balanceamento da visão econômica com a visão social. Na evolução dos vários projetos que participo e participei no campo social, achei que seria interessante mostrar essa dimensão da consciência que o empresário deve ter com a sociedade, com o desenvolvimento econômico e social. No fundo, (a obra) é mais uma exposição de valores e propósitos dentro de uma visão macroeconômica e social, que considero que seria importante debater e analisar com a sociedade.

JC – No livro, o senhor elenca 23 palavras que norteiam a sua busca. Dessas, quais o senhor destacaria como principais para todo e qualquer empreendedor?

Jorge Gerdau – Podemos falar em duas palavras-chave das quais eu diria que empacotam o conjunto: respeito e amor. O respeito vem muito forte da cultura do nosso pai (Curt), em que, exemplarmente, respeitava o porteiro da mesma forma como o principal engenheiro (da empresa). É um traço marcante da estrutura do norte da Europa, que seguiu nas organizações da Gerdau. Tudo se constrói na proporção do respeito. Isso vale na relação familiar, nas empresas, na comunidade e nas instituições sociais. Também destaco a palavra amor, pois acho que as maiores obras passam por uma atitude de amor. Na abrangência de se envolver emocionalmente para que as coisas possam ser atingidas e construídas. O livro fala de várias atividades que vêm de experiências vividas, mas, depois, se encerra com essas palavras-chave que, no meu entender, complementam um pouco a filosofia que orienta todo o meu pensamento.

JC – O título do livro é ‘A Busca’. Poderia nos explicar que busca é essa que o senhor se refere?

Jorge Gerdau – Em todas as frentes e atividades que tenho atuado na minha vida, a busca sempre foi por excelência, seja de padrão, eficiência, produtividade e custos das empresas. Esse tipo de atitude, de inquietação, de pesquisar, analisar, é o que, teoricamente, faz parte do conceito de benchmarking, ou seja, olhar o que existe de melhor no mundo em termos de eficiência e produtividade. No título do livro, tirei a palavra ‘excelência’, porque, apesar de ser operacionalmente útil, ela pode ser facilmente levada para um entendimento de exclusão ou de vaidades. Por isso, ficou somente ‘A Busca’, de uma forma ampla. Até porque a minha busca não se esgotou na empresa. Há uma abrangência social enorme nela.

JC – Este sentimento de inquietação aparece em várias passagens do livro. O senhor diria que essa é a sua principal característica?

Jorge Gerdau – Diria que o que caracteriza mais o meu comportamento e a minha personalidade é a curiosidade. É o que realmente estrutura a minha atitude de forma global. A curiosidade leva a atitude de ampliar o conhecimento e, consequentemente, a palavra ‘busca’ se conecta com a curiosidade.

JC – Apesar de não ser o foco da obra, a trajetória mais que centenária da Gerdau é tratada em algumas passagens. O que foi preponderante para o sucesso da empresa na sua visão?

Jorge Gerdau – Creio que há dois fatores. O primeiro é dominar o core business (negócio principal). Tenho convicções profundas que o sucesso de qualquer empresa ocorre quando há o domínio do seu core business. Ao definir o seu core business, é preciso estudar profundamente o seu negócio. Os outros processos, seja de finanças, recursos humanos, logísticos ou o que for, devem servir para aprimorar o core business. Diria que esse é um elemento-chave. O segundo ponto – que é o mais importante – é a gestão de recursos humanos. Há uma expressão que diz ‘business is people’ (o negócio são as pessoas). Ou seja, a capacitação, a mobilização e as relações de estrutura que motivam as equipes fazem o sucesso das empresas.

JC – Outro tema que o senhor sempre aborda e se envolve muito é a educação. Em uma oportunidade, na Federasul, o senhor comentou que estava começando o projeto de digitalização da educação básica. Como está isso hoje?

Jorge Gerdau – Tenho olhado intensamente com o (empreendedor) Richard Lucht sobre o desenvolvimento de tecnologias de gestão. Hoje, uma prova é realizada em uma classe e, cinco minutos depois, o teste está eletronicamente pronto. Isso já acontece em Porto Alegre. Agora, o maior tema está na educação em si. A tecnologia é só um meio para aprimorar o processo. É preciso avançar no envolvimento técnico e emocional dos professores, na relação de construção da educação. Há uma enorme caminhada a ser feita nisso. A atividade, em grande parte, não é bem remunerada. Precisamos usar os mecanismos clássicos de estímulo. As remunerações não devem ser burocráticas, mas em proporção à eficiência. Os sistemas burocráticos não estimulam o resultado. Todo esse tema, no meu entender, merece uma reanálise completa no Brasil. Felizmente, já começaram surgir operações de educação com sucesso, como no Ceará e em outras localidades. Já temos provas do mecanismo a ser buscado.

JC – Outro conceito que o senhor destaca no livro é o da sustentabilidade. Com o impacto que o Rio Grande do Sul sofreu este ano a partir da tragédia climática, esse tema deve estar ainda mais presente na gestão das grandes empresas na sua visão?

Jorge Gerdau – Aprendi essa palavra sustentabilidade em 1992, quando se realizou um Congresso do Rio de Janeiro (ECO-92). Naquele tempo, a sustentabilidade era abordada em uma visão, exclusivamente, ambiental. Com o tempo, o conceito ganhou a extensão de sustentabilidade econômica, política e social. Gosto muito da palavra sustentabilidade, porque ela define a necessidade de equilíbrio de todos esses fatores. É um tema que não está terminado, ao contrário, estamos entrando em choques pelo atraso e por processos históricos de investimentos sem preocupações ambientais. Precisamos nos recuperar.

JC – Passados seis meses da tragédia climática no Rio Grande do Sul, qual o balanço que faz do que foi feito em termos de participação dos governos federal e estadual na reconstrução do Estado?

Jorge Gerdau – Acho que ainda falta transparência em relação ao real prejuízo ou à definição da real necessidade do Rio Grande do Sul para abastecer ou atender as suas demandas sociais e ambientais. O governo federal está com conflitos de poder atender às suas demandas de dinheiro e não está conseguindo arrecadar aquilo que já gastou ou está gastando. Já o governo estadual está há décadas buscando um equilíbrio entre endividamento e capacidade de pagamento. Mas as realidades financeiras – seja federal ou estadual – em relação às dimensões dos nossos desafios é um tema não equacionado.

Fernanda Crancio e Nícolas Pasinato
economia@jornaldocomercio.com.br

Foto: TÂNIA MEINERZ/JC

https://www.jornaldocomercio.com/

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